domingo, 8 de janeiro de 2012

INOCÊNCIA DA VIDA - contos e crônicas



Conto do Livro Inocência da vida - Amc-Guedes - Editora
Autor: Marcelo Allgayer Canto

Encontro para a mudança

A vida de Carla sempre foi simples. Estudar, passear nos fins de semana, conversar com as amigas e com os familiares. Há quem diga que uma existência se transforma, quando o amor, ou uma amizade aparece, seja na adolescência, ou na fase adulta. Com Carla não foi diferente.
Paulo saiu de sua casa para o colégio. Era um rapaz por volta dos seus dezesseis anos, que não conseguia esconder sua timidez, quando uma moça bonita lançava um olhar mais penetrante. Carla estudava na mesma classe de Paulo. Uma vez se dirigiu ao jovem rapaz:
- Paulo! De acordo com a chamada da professora é esse o seu nome, não é?
Por que você é tão calado, não fala com ninguém, principalmente com as garotas?
Inesperadamente, Carla vê o rapaz sair em disparada, indo para o banheiro.
Paulo suava frio e não havia jeito de retornar à classe, deixando até seu material de estudo na carteira.
A moça, não resistindo à tentação, pegou o material do rapaz e levou para casa. Começou a ler o que Paulo escrevia. Eram linhas de uma letra trêmula, mas perfeitamente legível. Carla observou que Paulo sequer anotava direito as lições de aula, mas não deixou de perceber uma sensibilidade incrível do rapaz para escrever redações.
A harmonia das palavras era tal, que a moça chegava a chorar em cada linha de texto lida.
Já havia três dias que Paulo não freqüentava a escola. Carla, preocupando-se com a situação, resolveu encarar os fatos. Pediu o endereço de Paulo para sua professora e foi visitá-lo.
Chegando ao local determinado, Carla apertou a campainha. Uma senhora, por volta dos quarenta anos de idade, atendeu a porta.
- O que queres menina?
Em prantos, Carla começou a soluçar, dizendo que queria pedir desculpas ao Paulo pelas palavras que ela tinha dito e que estava, enfim, arrependida; queria também devolver o material do rapaz, principalmente suas redações.
- Você não tem que pedir desculpas de nada! – disse a mãe de Paulo.
- Por quê?
- Olha moça. Devo dizer que meu marido teve uma séria conversa com meu filho. Sabe como é: de homem para homem. Os dois saíram alegres da conversa. Parece que Paulo está mudado, isto é, com mais desprendimento; veja só, até cogita em falar com garotas!
- E o que eu tenho haver com isso? – indagou Carla.
De repente surgi o rosto do rapaz entre a menina e a senhora. Ele, num tom corajoso, intervém:
- Você é uma pessoa maravilhosa Carla! Eu nasci de novo!



contato com o autor
maccanto@brturbo.com.br

ANTOLOGIA - LUZ



PARTICIPAÇÃO DE MARCELO ALLGAYER CANTO

Mirando o amanhã

Muitos procuram os seus alvos,
Enquanto estão a salvos.
Outros fogem da miséria,
Querendo apenas ser salvos.

Muitos choram pelas circunstâncias,
Pelas amargas constatações.
Outros largam risos por emoções,
Querendo apenas manter alegrias.

Outros tantos miram o futuro
Por verem as pessoas continuar
Vão pelo suspeito desejo
Querendo apenas amar e amar.
.


Recordações

Recordar...
Recordar os áureos tempos
As passagens...
É fruto também do viver.

Pessoas conhecidas
E as que queríamos conhecer,
Lugares do amanhecer.
Memórias visuais
Geradas pelo acaso do existir.
Recordar...

Recordar a infância:
Origem de toda criação.
Recordar, os corações amados,
Fontes dos bem-quereres.
Recordar...
Estar é também recordar.



Ânsia de amar

O amor conduz a ânsia dos apaixonados,
O caos dos necessitados...
O amor, o puro amor,
É fruto que renasce de qualquer pessoa
Quando alguém precisa de alguém.

Vem sorrateiro, o amor,
Quando só impera o desamor.
O amor é amizade,
Quando só existe o conflito,
Confunde-se com a luxúria,
O desencantar de corpos.
.

O amor é do pai, da mãe,
Do irmão e da irmã,
O amor é dos sentimentais,
Dos ricos, dos pobres,
Dos santos, dos bandidos,
O amor é do mundo,
É o sonho de todo mundo.



Filosofia

Filosofar a problemática das soluções,
A busca de constatações.
Filosofar por que o mundo se move,
Filosofar o porquê das origens
Dos pensamentos obscuros, escondidos,
Pensar o porquê pensar.

Estudar e procurar os cientistas
Que aguçam as mentes mais inquisitivas
Do estado do existir,
Do suposto existir.

Filosofar...
Filosofar de Platão a Sartre,
Do sonho de um ideal
Ao Ser e estar material.

Filosofar sobre Deus,
Sobre o porquê dos agnósticos,
Sobre os mistérios dos prognósticos.

Ciência que faz pensar...
Gira o mundo que só o que quer
É explicação sobre o estar.



Vida de rico, vida de pobre.

Vê-se a criança no seu mundo protegido:
Segurança da mãe comprando brinquedos
Para um bem-estar confortável,
Querer tudo para si:
É a satisfação do eu e seu mundo mágico,
Mas as pobres crianças,
Minguam por simples brinquedos,
É pouca comida e um mundo trágico.

Na adolescência de todos
Vê-se o rico a esnobar com modernos carros
Para um bem-estar confortável,
Querer e ter a mais bela garota,
O mais belo rapaz:
É a satisfação do eu e seu mundo carnal,
Mas os pobres jovens
Lutam por uma vaga Universitária,
É pouco estudo e um mundo desleal.

Vê-se a vida adulta de todos
O bem estar dos que tem posses:
Mundo de viagens e empregos seguros,
Querer e mais querer:
É a satisfação em luxúrias, em esbanjamentos,
Mas os pobres não têm cultura, só lamentos,
Lutam por um lugar ao sol,
É pouca comida e um mundo sem praia.



Tempos modernos

A máquina humana entregou-se,
Entregou-se para a máquina virtual
O homem, a mulher, a criança,
Esperam as novidades dos novos computadores,
Softwares, hardwares,
É o apelo ao mundo informacional.
Luzes que cada vez mais brilham,
Fontes cibernéticas que cada vez mais criam
Poderosas engenharias
Ainda mais pequeninas,
Com minúcias de detalhes, de imagens,
Sofisticadas e complexas linguagens.

Tempos modernos...
Tempos de poucos exercícios físicos
Onde a infância é gastada
Em jogos de vídeo-game,
Onde o homem faz mala-direta,
E a mulher tem mala pequena para viajar,
Ócios, trabalhos mais facilitados,
É o apelo ao mundo dos habilitados.
Tempos modernos...
Do homem que se esqueceu do homem
E que agora constrói robôs.



Momentos fotográficos

Nas fotos congelam-se momentos
Intensos, acalentadores,
Momentos de outrora,
Momentos de alegria,
Aquilo que não se queria
Deixar para traz...

Muitos por acharem-se pensativos,
Ou por vezes distantes,
Buscam, nas fotos, os instantes,
Fotos que alimentam a alma
E que pelos olhos acalma
O interior...
Fotos, arte, posição,
Gestos articulados, enquadrados em máquina,
Configurados pela ação,
Pelo toque de uma mão.